Vida e morte de Glória Maria: família, carreira e legado
O Brasil se despede de uma das mais brilhantes jornalistas de todos os tempos. Glória Maria lutava contra um câncer e estava internada no Hospital Copa Star, na Zona Sul do Rio de Janeiro.
Em nota oficial, a TV Globo informou: “Em 2019, Glória foi diagnosticada com um câncer de pulmão, tratado com sucesso com imunoterapia. Sofreu metástase no cérebro, tratada em cirurgia, também com êxito inicialmente.”
“Em meados do ano passado, Glória Maria começou uma nova fase do tratamento para combater novas metástases cerebrais que, infelizmente, deixou de fazer efeito nos últimos dias”, explicou o comunicado.
Glória Maria deixa duas filhas adolescentes, Maria, de 15 anos, e Laura, de 14. Elas foram adotadas em 2009, após uma viagem à Bahia. O processo durou em torno de 11 meses, o que fez com que a jornalista se mudasse para o Nordeste, enquanto aguardava a finalização definitiva da adoção.
Em entrevista ao programa ‘Encontro’, Glória falou sobre o assunto: “Eu nunca quis ser mãe. O trabalho me preenchia, minha vida era perfeita. Elas surgiram por acaso. Eu nunca tinha pensado em ter filhos até que vi as duas pela primeira vez e tive certeza que elas eram minhas filhas. Isso é uma coisa que não sei explicar.”
Dentro do universo jornalístico, Glória ficou conhecida por sua dedicação à profissão, bem como por cultivar o seu espírito curioso e desbravador. Entrou para o grupo Globo, no início dos anos de 1970, trabalhou como rádio-escuta na editoria Rio da emissora e, mais tarde, foi efetivada como repórter.
Não tardou e sua carreira despontou. Tornou-se logo âncora da emissora, ficando à frente de vários programas jornalísticos como RJTV, Jornal Hoje, Fantástico e Globo Repórter.
Com o passar dos anos, Glória tornou-se uma das jornalistas mais respeitadas do Brasil, e, no seu rol de entrevistados, foi a profissional que mais se destacou por colecionar nomes como Mick Jagger, Michael Jackson, Freddie Mercury, Harrison Ford, Nicole Kidman, Leonardo Di Caprio e Madonna.
(Foto: Reprodução / YouTube)
A jornalista também participou de coberturas de acontecimentos históricos como a Guerra das Malvinas (1982), a invasão da embaixada brasileira do Peru por um grupo terrorista (1996), os Jogos Olímpicos de Atlanta (1996) e a Copa do Mundo na França (1998).
Para Glória, o jornalismo era sempre uma oportunidade de descoberta. Para ela, não havia limite para mostrar ao público o inusitado, fosse na neve, voando de asa delta, fazendo escalada ou sobrevoando de helicóptero a cratera de um vulcão.
Glória chegou a conhecer mais de 160 países, dos quais, boa parte deles, fez questão de apresentar ao público.
Como profissional, o seu primeiro destino pela TV Globo foi os Estados Unidos. Na viagem, cobriu a posse do presidente democrata Jimmy Carter, em janeiro de 1977.
Em reportagem à revista Quem, em 2019, ela falou: "Quero ser feliz, viver e ir para o mundo. Só isso. Gosto de conhecer gente, de viajar. Se me trancarem dentro de um estúdio, eu me mato. Viraria uma velhinha triste. O meu negócio é o mundo. Enquanto me deixar ir para ele, estou feliz."
Glória levou o mundo para dentro das casas brasileiras. Apresentou países como Marrocos, Ceilão, Butão, Irã, Índia, Noruega, Japão, Egito e muito mais. Também desbravou belezas brasileiras revelando paisagens pouco conhecidas, porém encantadoras
Uma das viagens mais emblemáticas de Glória, e que o público amou, foi à Jamaica. Na ocasião experimentou de tudo um pouco, inclusive “ganja”, uma erva similar à m a c o n h a. Sobre o episódio, ela comentou: “Em um primeiro momento, eu fiquei completamente tonta. Para quem não está acostumado, é preciso tempo para entender.”
Em entrevista ao Vídeo Show, em 2017, Glória contou que a viagem mais emocionante que fez foi a Jerusalém: “Essa viagem quase me derrubou. Eu pude fazer os caminhos de Cristo entre Jerusalém e o Egito, foi uma das coisas mais emocionantes da minha vida. Foi muita emoção, energia, coisa sagrada.”
(Foto: Reprodução / Globoplay)
Glória Maria será lembrada como uma jornalista de coragem, de talento ímpar e que deixou sua marca na mídia brasileira. Sua herança intelectual e sua bravura sempre serão fonte de inspiração para jornalistas do presente e do futuro.