Por que o Brasil tem tantos descendentes de japoneses?
A imigração massiva de japoneses, na primeira metade do século XX, para o Brasil foi impulsionada por interesses mútuos entre os dois países. O Brasil buscava suprir sua demanda por mão de obra, enquanto o Japão precisava mitigar a pressão social no país.
Assim, os japoneses foram ao Brasil trabalhar nas plantações de café, especialmente em São Paulo e no norte do Paraná. Depois de sancionada a abolição da escravatura, em 1888, os dirigentes faziam esforços para encontrar novos trabalhadores.
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No caso do país asiático, a emigração representava para os japoneses uma promessa de fazer riqueza, diante do conflito social resultante de seu rápido crescimento populacional. A política de emigração simbolizada também a abertura do país ao mundo ocidental.
No dia 18 de junho de 1908, o navio Kasato Maru chegou ao porto de Santos, marcando o início da imigração japonesa em terras tupiniquins. A viagem durou 52 dias e transportou 781 imigrantes, relatou a Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo).
Ao chegarem ao Brasil, foram confrontados com um imenso choque cultural e linguístico, além de enfrentarem frequentes casos de preconceito, sendo por vezes considerados incapazes de assimilar a cultura local.
Além disso, a elite brasileira era a favor do embranquecimento da população a partir da imigração de europeus e não de asiáticos.
Mesmo assim, a escassez de mão de obra nas plantações levou o governo brasileiro a continuar as negociações diplomáticas com o governo japonês, visando atrair mais trabalhadores para o país.
De fato, em junho de 1910 chegou o segundo navio, chamado Ryojun Maru, trazendo consigo 906 trabalhadores.
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Foto: Unsplash - Orbtal Media
Eles foram distribuídos por diversas fazendas paulistas, da mesma forma que seus compatriotas anteriores, enfrentando desafios de adaptação. Mas, com o tempo, os conflitos diminuíram e a permanência nos locais de trabalho tornou-se mais estável, relatou a Alesp.
De acordo com o infoescola.com, Amândio Sobral, responsável pela inspeção de migrantes no estado de São Paulo, observou que os japoneses "desembarcaram dos vagões de forma organizada, surpreendendo a todos pelo estado de limpeza em que deixaram o navio: nenhum cuspe, nenhuma casca de fruta".
Outro fator que surpreendeu positivamente os brasileiros que os receberam foi a alta disciplina e a maneira impecável com que realizavam suas tarefas.
Logo, foram feitos mais acordos entre o governo paulista e as novas famílias japonesas, até que, em 1914, o contingente de trabalhadores japoneses no Estado de São Paulo já alcançava aproximadamente 10 mil pessoas.
A partir da década de 1930, os acordos de migração japonesa foram interrompidos, devido às novas leis migratórias estabelecidas no Brasil, sendo retomados no período pós-Segunda Guerra Mundial.
Foto: Unsplash - Kiwihug
Ainda antes da Segunda Guerra, o número de colônias agrícolas japonesas aumentou. Calcula-se que, no período de 1908 a 1941, aproximadamente 188 mil japoneses tenham imigrado para o Brasil, segundo o Centro de Estudos Nipo-Brasileiros.
Foto: Unsplash - Dariusz Sankowski
Depois de passada a Segunda Guerra, período em que os nikkei sofreram severas restrições, a relação entre o Brasil e o Japão entrou em uma nova fase.
A década de 1950 foi marcada por uma maior integração entre a comunidade japonesa e a sociedade canarinha. Os primeiros nikkeis começam a ocupar cargos políticos no Brasil e o governo aprovou mais uma leva de imigrantes, atraindo o investimento de empresas japonesas no país.
Cinco décadas depois do primeiro navio aportar em Santos, o número de descendentes japoneses no Brasil já era de cerca de 400 mil pessoas.
A esta altura, e no contexto da nova sociedade, os descendentes de japoneses passaram a integrar também a indústria, o comércio e os serviços.
Hoje, segundo dados da Embaixada do Japão no Brasil, estima-se que vivam no Brasil cerca de 2 milhões de japoneses e descendentes, a maior comunidade fora do Japão.
Em São Paulo, o bairro da Liberdade é um verdadeiro reduto da comunidade japonesa, com karaokês, restaurantes, comércio de roupas, alimentos e festas típicas.
A presença japonesa é tão forte, que o bairro recebeu decoração típica o r i e n t a l, com a instalação de luminárias públicas no estilo suzurantõ, e é um dos locais mais visitados da capital. Mais de 100 anos depois do primeiro navio aportar em Santos, os japoneses ocupam, hoje, um lugar importante na história e cultura do Brasil.
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Foto: Unsplash - Gabrielle Roncarate