Nepotismo em Hollywood: a polêmica sobre os filhos dos famosos

Uma reportagem recente publicada na New York Magazine chegou à conclusão de que a maioria das estrelas emergentes era, na verdade, filha da elite de Hollywood.

Estas novas celebridades foram apelidadas de "nepo babies", uma maneira suave de definir os beneficiários do nepotismo na indústria artística. Muitos tiktokers passaram a dar exemplos específicos em suas postagens.

A reportagem dizia: “Nepo baby: Como duas palavrinhas podem causar tanto conflito? Um bebê é um pacote de alegria; um nepo baby é a prova física de que a meritocracia é uma mentira. Nós os amamos, os odiamos, os desrespeitamos, somos obcecados por eles”.

Foto: Instagram/NYmag and vulture

A autora, Nate Jones, conduz os leitores através da jornada típica do "nepo baby": nascer em uma casa famosa, ser parecido com parentes famosos, publicar selfies e comentários nas mídias sociais e, em seguida, obter ajuda da mãe e/ou do pai para conseguir um ótimo emprego. Se não funcionar, eles tentarão, novamente, de cima.

Foto: Instagram/NYmag and vulture

O filho de David e Victoria Beckham foi citado. Brooklyn Beckham tentou seguir os passos de seus pais, jogando no Arsenal FC Academy e depois modelando para a Vogue.

Mais tarde, Brooklyn Beckham lançou-se como fotógrafo e publicou um livro sobre elefantes. Então, ele, desajeitadamente, tentou ser chef de cozinha, com seus vídeos de culinária de $ 100.000 por episódio, que acumularam milhões de visualizações.

Na reportagem, especialistas disseram que muitos "nepo babies" carecem de talento, mas ainda assim são contratados. Outros, por sua vez, têm seu próprio mérito ou um "fator" especial que tornou seus pais famosos.

Celebridades como a estrela de 'Euphoria', Maude Apatow (na foto, com seus pais Judd Apatow e Leslie Mann), a modelo Lily-Rose Depp (filha de Johnny Depp e Vanessa Paradis) e Zoë Kravitz (filha de Lenny Kravitz e Lisa Bonet) comentaram o assunto.

Mas uma das grandes reações veio de Jamie Lee Curtis (filha de Tony Curtis e Janet Leigh), que autodenominou-se "OG Nepo Baby". Ela disse que a polêmica foi planejada para “diminuir, denegrir e machucar”.

No entanto, a atriz afirma: “A questão é que muitos [nepo babies] não reconhecem privilégios... e então atribuem seu sucesso apenas ao seu próprio talento".

Foto: Instagram/NYmag and vulture

E continuou: Existem milhares de atores, cantores, etc. por aí que são tão ou mais talentosos, mas não chegam ao mesmo status”.

Já Lily Allen twittou: “Os nepo babies com os quais vocês deveriam se preocupar são os que trabalham para escritórios de advocacia, os que trabalham para bancos e os que trabalham na política".

E continuou: "[Isso] se estivermos falando sobre as consequências do mundo real e o roubo de oportunidades das pessoas. Mas isso não é da minha conta”.

Allen foi criticada no Twitter. Os comentários incluíram: “Nepo baby fazendo cosplay de classe trabalhadora, enquanto ocupa o espaço de artistas da classe trabalhadora, muito pior” e “nepotismo na arte cria uma câmara de eco das mesmas perspectivas, década após década, enquanto exclui quaisquer novas vozes”.

Allen apontou algumas das desvantagens de ter pais famosos: “Muitos dos nepo babies passam fome de coisas básicas na infância, pois seus pais provavelmente são narcisistas”. Ainda lembrou que as agendas de turnês e filmagens dos pais não são favoráveis.

Kate Hudson, filha de Goldie Hawn e Bill Hudson, disse ao The Independent que realmente não se importa com o nepotismo. “Eu olho para os meus filhos e somos uma família que conta histórias. Está definitivamente em nosso sangue… não me importa de onde você vem… se você trabalha duro.”

Lottie Moss, A meia-irmã de Kate Moss, disse em um tweet, posteriormente deletado: “Estou tão cansada de pessoas culpando o nepotismo por não serem ricas, famosas ou bem-sucedidas."

"Obviamente, não é justo que pessoas que vêm de famílias famosas estejam ganhando vantagem por causa disso. Mas adivinhe? A vida não é justa”, disse a artista.

O filho de Ice Cube, O'Shea Jackson Jr., também opinou sobre o debate: “Meu pai me disse que, em um mundo perfeito, eu o interpretaria em 'Straight Outta Compton'. Eu já estava na faculdade de roteiro na USC. Aceitei o desafio. Fiz o teste por dois anos antes de conseguir o papel. Depois disso, dependia de mim, ele não poderia segurar minha mão durante a minha carreira ”.

Eve Hewson, a filha do líder da banda U2, Bono, trouxe um pouco de humor à discussão, dizendo que estava “devastada” por não aparecer no artigo. “Vou tatuar Nepo Baby na minha b u n d a”, brincou.

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Mais tarde, Hewson apontou que a CEO da New York Magazine, Pamela Wasserstein, também é um "nepo baby", já que seu pai comprou a revista em 2004.

Em 1998, Whitney Houston, também com ascendência famosa, discutiu o mesmo fenômeno no The Magic Johnson Show. “Ter esse histórico lendário é muito apropriado, mas uma vez que você chega lá, você tem que provar que é bom ou melhor… o nepotismo não é tão fácil.”

A modelo Lily-Rose Depp também fez sua análise, no caso, para a revista Elle: “A internet parece se importar muito com esse tipo de coisa. As pessoas vão ter ideias preconcebidas sobre você ou como você chegou lá, e posso dizer com certeza que nada vai te dar o papel, exceto ser a pessoa certa para ele”.

Adonis Bosso respondeu o comentário da colega assim: “Passei anos construindo minha carreira, voando para a Europa sem dinheiro. Quando finalmente tive a oportunidade de trabalhar para uma grande marca, sendo um homem negro, eles a deram para recém-chegados com pais famosos. Portanto, não importa o que aconteça, ensine humildade a seus filhos”.

A modelo Nyagua Ruea confirmou que não conhece nenhuma modelo negra que tenha se beneficiado do nepotismo. “Todos nós já tivemos que assistir uma modelo nepo/branca entrar em um casting, em que você esteve por horas, e sair em nada menos que 30 minutos”, disse no Instagram.

Rebecca Shaw em um artigo para o The Guardian, opina que o verdadeiro problema é que trabalhar com artes é altamente inacessível para a maioria. Apenas 7,9% das pessoas de origem da classe trabalhadora estão no setor, hoje, em comparação com 16% na década de 1950, de acordo com um estudo do Reino Unido.

Foto: Lux Charters/Unsplash