Nair Bello: por trás do sucesso, a perda de um filho
Quem via todo aquele bom humor e o sorriso estampado no rosto de Nair Bello não imaginava que, por trás, existia uma história de dor e sofrimento.
A atriz, que morreu aos 75 anos, em 2007, começou sua carreira ainda muito jovem, aos 18 anos, como locutora na Rádio Excelsior. Pouco tempo depois, passou a trabalhar na Rádio Record.
Em 1951, estreou no cinema em ‘Liana, a Pecadora’, quando contracenou com sua grande amiga Hebe. Na foto, aparece ao lado da apresentadora e da atriz Lolita Rodriguez. As três eram grandes amigas e deram, juntas, uma das entrevistas mais memoráveis de Jô Soares.
Em 1953 casou-se com seu primeiro e único namorado, Irineu Sousa Francisco, e deu à luz quatro filhos: Manuel, José, Maria Aparecida e Ana Paula.
O tempo passou, os filhos foram sendo criados, entretanto, a vida nem sempre foi gentil com todos, principalmente com o mais velho, Manuel.
Em 1975, Manuel, aos 20 anos, sofreu um acidente de automóvel que tirou sua vida.
Nair teve muita dificuldade de lidar com a ausência do filho e mergulhou numa depressão profunda, isolando-se em casa de tudo e todos, por um ano.
Diante do problema que só se agravava, Nair procurou ajuda profissional de um psicólogo, entrou em tratamento e também reencontrou sua fé na doutrina espírita.
Dentro da doutrina, Nair começou a encontrar a aceitação e conforto para sua perda. Em 1977, através do médium Chico Xavier, recebeu uma carta psicografada do filho, e sua dor, aos poucos, foi se transformando em saudade.
Foto: cena do filme biográfico 'Chico Xavier'
Segundo o jornal O Globo, a carta foi o que ajudou a atriz a sair do fundo do poço e ainda foi usada por Ivani Ribeiro como orientação para reescrever o remake a novela ‘A Viagem’ (1994). Na trama, Nair viveu Cininha, dona da pensão que movimenta a trama.
Diante do consolo que recebera, Nair mandou imprimir seis mil cópias da carta e as distribuiu. Depois, parou de tentar receber mensagens do filho. “Rezei muito para voltar a sorrir. Se eu me entregasse, ia acabar com minha família e me tornaria uma pessoa chata. A dor e o prazer são sensações muito exclusivas. Não devem ser alardeadas”, declarou ao o jornal O Globo, em 1994.
Outra perda mexeu completamente com as emoções de Nair. Em 1999, o seu marido faleceu, o que levou a atriz a mergulhar novamente no estado depressivo e a desenvolver outros problemas de saúde.
Em 2002, Nair é operada de um edema pulmonar provocado pelo cigarro e, em 2006, faz uma mastectomia para a retirada de um câncer de m a m a.
No final de 2006, a atriz estava em um cabeleireiro quando teve uma parada cardiorrespiratória e foi levada por uma ambulância à Santa Casa, onde recebeu os primeiros socorros.
Depois, Nair foi transferida para o Hospital Sírio-Libanês, onde ficou internada, em coma, na UTI. Já em 2007, apresentou alguma melhora e deixou o tratamento intensivo, mas permaneceu no hospital na companhia dos familiares.
Em 30 de março, Nair sofreu nova arritmia cardíaca e crises de insuficiência respiratória, retornando à UTI, onde permaneceu até 16 de abril, quando nos deixou.
Seus principais sucessos vieram nas novelas de Carlos Lombardi, como Dona Gema, em ‘Perigosas Peruas’ (1992), Tônia, em ‘Vira-Lata’ (1996), Pierina, em ‘Uga Uga’ (2000), Dolores, em ‘Kubanacan’ (2003) e ainda participou da minissérie ‘Quinto dos Infernos’. (2001).
Seu último papel foi interpretar a Viúva Lake, uma participação especial em ‘Bang Bang’, também de Carlos Lombardi e exibida na Globo.