Jeffrey Dahmer: de monstro a ícone pop, após série?
Embora tenha sido pego em 1991 e morto na prisão, em 1994, o serial killer, Jeffrey Dahmer, parece mais vivo que nunca. Em setembro de 2022, a Netflix lançou uma minissérie em que detalha seus terríveis crimes.
'Dahmer: Um C a n i b a l Americano' ('Dahmer - Monster: the Jeffrey Dahmer Story'), rapidamente, tornou-se uma das produções de maior sucesso da plataforma, ao mesmo tempo que controverso.
Imagem: Netflix
A série é estrelada por Evan Peters como Jeffrey L. Dahmer, um homem que matou pelo menos 17 pessoas nos anos 70 e 80, nos Estados Unidos. Muitas de suas vítimas eram negras e da comunidade LGBTQIAP+.
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O criador de 'Dahmer: Um C a n i b a l Americano' ('Dahmer - Monster: the Jeffrey Dahmer Story') é Ryan Murphy, conhecido por séries aclamadas como 'American Horror Story', 'Ratched' (foto) e 'Glee', além de filmes como 'Eat Pray Love'.
Cada um dos dez episódios concentra-se na experiência de uma pessoa diferente com o serial killer. De acordo com Evan Peters, em entrevista à Netflix, a intenção dos criadores sempre foi contar a história de qualquer perspectiva, exceto a do assassino.
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Através dos olhos de seu pai, sua vizinha - que suspeitava que algo estava errado, das pessoas que ele assassinou e de suas respectivas famílias, mostra-se como um indivíduo problemático e sanguinário seguiu em liberdade por tantos anos.
A série é também uma critica ao sistema judicial americano que não agiu rápido o suficiente para evitar que Dahmer fizesse mais vítimas. "A sociedade e nosso sistema falharam em detê-lo várias vezes por causa do racismo, homofobia... É apenas uma história trágica", reforça Evan Peters.
Na foto, o terreno baldio onde ficava o prédio no qual Dahmer morava.
Apenas duas semanas depois de seu lançamento, a série teve meio bilhão de horas de audiência, de acordo com a Forbes. Esse número a coloca no nível de 'Round 6' ('Squid Game'), 'Stranger Things' e 'La Casa de Papel' - as mais assistidas da história da Netflix.
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Tamanho alcance fez com que, em 7 de outubro, a Netflix lançasse um novo documentário: 'Conversando com um serial killer: O C a n i b a l de Milwaukee' ('Conversas com um Assassino: As Gravações de Jeffrey Dahmer', em Portugal). Nele, são exibidos trechos de entrevistas reais com o assassino, enquanto ele estava na prisão.
A Forbes relatou nos dias seguintes que o documentário, dividido em três partes, rapidamente, tornou-se o programa número 2 da Netflix. Veio logo após a série de ficção sobre Dahmer.
As famílias das vítimas de Dahmer, segundo o Buzzfeed, reclamaram das produções. Elas dizem que a Netflix tem lucrado com a popularidade do 'crime verdadeiro', um tema frequente em filmes, séries, livros e podcasts.
Se por um lado as produções sobre tragédias reais informam o público, por outro, são frequentemente apreciadas como entretenimento. As pessoas divertem-se ao acompanhar estas histórias. A colaboradora do Buzzfeed, Stephanie McNeal, chama o fenômeno de "complexo industrial do verdadeiro crime".
As famílias das vítimas dizem que este tipo de programa reaviva o trauma das vítimas e de seus entes queridos, repetidamente. Mas o "True Crime" é um negócio que rende muito dinheiro.
O dinheiro ganho com produções de crimes reais muitas vezes não vai para as famílias das vítimas, enfatiza a Time. A irmã de uma das vítimas de Dahmer, Rita Isbell, disse ao Insider que a sua nunca havia sido informada sobre a série, nem esperava obter nenhum lucro.
Jeffrey Dahmer recebeu 15 sentenças de prisão perpétua. Deveria ser esquecido para sempre, mas, agora, é uma figura amplamente reconhecida novamente. A Netflix é criticada por isso.
Quando Jeffrey Dahmer ainda estava vivo, surpreendentemente, ele recebia cartas de "fãs" na cadeia, conta a série. E, segundo o Buzzfeed, em outubro de 2022, a hashtag #Dahmer tinha mais de um bilhão de visualizações no TikTok. Em outras redes sociais, as fotos reais do assassino e dos atores da série também viralizaram.
A proximidade com o Halloween pode levar, inclusive, a que pessoas escolham fantasiar-se como o serial killer. The Independent relata que "os óculos de aviador de Jeffrey Dahmer estão à venda no eBay por £ 15,59 [$ 17,30]".
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Não seria de estranhar, já que em 2021, as lojas encheram-se de fantasias dos personagens da série 'Round 6' ('Squid Game'). A diferença é que eram completamente fictícios. Vários meios de comunicação, como The Independent, Yahoo e The Daily Star, alertaram seus leitores a não se vestirem como Dahmer, no Halloween.
A série chamou a atenção também para o talento de Evan Peters. De acordo com a Forbes, para os espectadores, sua personificação de Dahmer assemelha-se muito ao verdadeiro assassino.
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Antes disso, Peters desempenhou um papel interessante em um dos maiores sucessos da TV de 2021: 'Mare of Easttown'. Ele já havia trabalhado com Ryan Murphy, em 2011, quando interpretou outro vilão, Tate Langdon, na série 'American Horror Story: Murder House'. Mais tarde, em 2018, voltou a aparecer em 'American Horror Story: Apocalypse'.
Quanto melhor a interpretação do vilão, afirma o Buzzfeed, mais simpatizamos com o personagem: "Quando um ator talentoso desempenha esse papel de forma crível e desempenha bem a estranheza social, o público começa a desenvolver empatia."
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Rita Isbell, a irmã de Errol Lindsey, que Dahmer matou em 1991, foi retratada na série em uma cena na qual falava com o assassino, no tribunal. Inicialmente, ela disse: "Estou grata que as vítimas não foram uma reflexão tardia, mas sua humanidade e perspectivas foram refletidas nesta série".
No entanto, para o Insider, ela reconheceu que assistir a uma parte da série "foi como reviver tudo de novo". E outro membro da família (@ericthulhu) twittou: "Está retraumatizando nossa família repetidamente, e para quê? Quantos filmes/séries/documentários precisamos?"
Na imagem, a lista de vítimas expostas durante o julgamento de Dahmer em 1992.
A Time lembra que a história de vida de Jeffrey Dahmer foi contada várias vezes. Em 2017, Ross Lynch interpretou o serial killer em 'My Friend Dahmer' (imagem), e em 2002, Jeremy Renner o incorporou no filme 'Dahmer'.
Mas algo que esta série traz de novo é mostrar a existência do racismo sistêmico: como um predador branco recebeu tão pouca atenção da polícia em um bairro negro.
Apesar das nobres intenções de Ryan Murphy e da Netflix, os críticos ainda argumentam que a série foca demais no assassino, a ponto de até "glorificá-lo". Pelo menos, essa é a palavra usada por eles no Rotten Tomatoes.
Rotten Tomatoes, o site no qual tanto a crítica quanto o público podem avaliar novos filmes e séries, ilustra sucintamente a controvérsia de Dahmer. Ambos lados têm opiniões diferentes sobre a série.
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Os críticos dão à série uma classificação de 52%: "Enquanto Monster está aparentemente autoconsciente do perigo em glorificar Jeffrey Dahmer, o estilo lascivo do criador Ryan Murphy, no entanto, inclina essa história de terror para o reino da exploração enjoada".
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Por outro lado, a pontuação da audiência, ilustrada com uma caixa de pipoca para 'entretenimento', é de respeitáveis 84%. Os espectadores gostam da série, e é improvável que ela caia no ranking da Netflix em breve.
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"O que tem acontecido é o oposto do que os críticos da série Dahmer esperavam ver", diz Paul Tossi, colaborador da Forbes. "Mesmo com toda a suposta indignação, o comportamento do público não reflete isso, e as pessoas realmente querem assistir a essas séries", completa.
Imagem: Netflix