Relacionismo: o estilo de futebol que pode levar o Brasil de volta ao topo
O relacionismo é uma estratégia futebolística que começa a ser vista em times notáveis do mundo. Envolve um estilo de jogo direto e agressivo, desenraizado velhos conceitos do "jogo bonito".
Atualmente, as táticas baseadas na posse de bola dominam o campo, enfatizando a importância dos jogadores manterem a posição e preservarem o espaçamento.
Os sistemas do Manchester City, de Pep Guardiola, ou do Brighton, de Roberto De Zerbi, são exemplos atraentes da escola de pensamento posicionalista no futebol europeu moderno.
Embora tenha se mostrado eficaz no mais alto nível -- o Manchester City para vencer a Liga dos Campeões em 2023 -, o sistema posicional começa a ter um forte concorrente, que é o relacionismo.
O relacionismo vai além de ser uma simples tática ou formação. É mais uma lente de compreensão do jogo. Em vez de uma formação rígida em que a bola sobe e desce pelo campo, a estratégia reimagina o futebol e permite que os jogadores se movam mais livremente pelo campo.
No relacionismo, os jogadores têm mais liberdade de aproximar-se da bola e buscar situações em que as "relações" possam levar a uma chance de ataque.
Estilos de futebol relacionistas começaram a ser incorporados no Malmö FF (Suécia) e no Benefica (Portugal), porém, o time que mais o personifica é o Fluminense (Brasil), comandado por Fernando Diniz.
Para observar a magia do relacionanismo, é preciso pausar o jogo na TV, tamanha a imagem de caos que aparenta.
Por isso, para muitos fãs de futebol ao redor do mundo, o relacionismo parecer incompatível, mas o Fluminesnense tem tido grande sucesso com a estratégia.
“Imagine alguém que nunca dançou ser chamado para ver uma performance de tango, capoeira ou valsa!” diz o analista de futebol Jamie Hamilton, que cunhou o termo "relacionismo" em 2022. “Seus olhos verão os corpos humanos se moverem, mas não entenderão nem apreciarão a complexidade dos movimentos.”
Além de tentar criar sobrecargas trazendo um jogador do lado mais distante para o lado mais próximo, o relacionalismo tenta quebrar uma defesa por meio da leitura de situações em tempo real e movendo rapidamente a bola entre vários jogadores diferentes.
É tudo sobre velocidade, mobilidade e agilidade com a bola.
No relacionismo, para realizar manobras rápidas de passe, é fundamental ter um jogador perspicaz e criativo recebendo a bola, conhecido como "tabela".
Este é um conjunto de habilidades que foi subestimado no jogo moderno, que preferiu "falsos noves" menores e mais rápidos em vez de atacantes maiores. Estes podem jogar de costas para o gol e passar a bola para os companheiros de equipe.
Esses "tabelas" encaixam-se em um sistema maior de mover a bola pelo campo através de "escadinhas" ou escadas diagonais, um conceito brasileiro que, mais tarde, foi adaptado para todas as ligas do mundo.
Um exemplo da estratégia em ação é o famoso gol do Arsenal contra o Norwich City em 2013-14, marcado por Jack Wilshire. Subindo no campo, Wiltshire avançou na "escadinha" primeiro com um dar e ir para Santi Cazorla, depois com o atacante Olivier Giroud para fechar o jogo.
O técnico de futebol americano certificado pela UEFA, David Garcia, foi educado sobre a importância do futebol posicional durante seu tempo como jogador na Espanha. Entretanto, ele passou a entender os méritos do relacionalismo ao ensiná-lo aos jogadores mais jovens para torná-los mais flexíveis quando jogando em posições diferentes.
“Jogadores juvenis, de 12 e 13 anos, recebem as respostas para resolver um problema futebolístico (situação de jogo) com 'estrutura'”, disse Garcia. “O problema é que, quando o jogador recebe a resposta, ele não desenvolveu nenhum entendimento sobre sua posição em relação ao jogo, mas simplesmente executa sua posição dentro de uma estrutura predeterminada e imposta. O relacionismo é um desejo de jogadores autorregulados”.
Ao analisar o relacionalismo no Fluminense, muitos críticos do futebol falaram de seu caráter caótico. Quando a equipe perde a bola, todos se envolvem em um contra-ataque massivo que, muitas vezes, gera um contra-ataque vertical. No entanto, é uma aposta arriscada deixar tantos espaços abertos na parte de trás!
No Fluminense de Diniz, essa superioridade localizada de números na lateral da bola, quando ela é virada, é utilizada para forçar a bola para os lados, tentando, então, prender a bola contra as laterais.
Diniz e o técnico do Malmö, Jon Dahl Tomasson, têm avançado com sua nova visão do futebol e, se continuarem com o sucesso, o futebol mundial poderá ver uma fusão, ou talvez um choque de estilos.