Porque a Jamaica tem os atletas mais rápidos do mundo?
Quando pensamos em corrida olímpica moderna, certamente visualizamos Usain Bolt alcançando a linha de chegada ou Shelly-Ann Fraser-Pryce fazendo com que o caminho até outra medalha de ouro pareça fácil.
Mas por que a Jamaica, uma ilha com apenas 2,8 milhões de habitantes, segundo o Banco Mundial, domina as pistas da corrida?
Michael Brooks, escritor do The Guardian e consultor do New Scientist, publicou um artigo, há quase uma década, que tentava encontrar alguma resposta.
“O fato de meu avô, Usain Bolt e muitos outros atletas nascidos na Jamaica serem tão rápidos é, em termos científicos, uma anomalia”, disse.
Brooks observou que os cientistas estudaram velocistas jamaicanos e norte-americanos bem-sucedidos em nível genético e descobriram um “gene da enzima conversora de angiotensina, ou ECA”, especificamente o “alelo D”.
A variante permite que os velocistas corram mais rápido e com mais força devido a uma ligação entre o gene e um coração maior e mais forte.
Este gene, e a variante específica, é, por alguma razão, muito mais prevalente na África Ocidental do que na Europa e na Ásia Oriental. Na população jamaicana, tem taxas mais elevadas do que até mesmo na África Ocidental.
Os atletas jamaicanos também são muito mais propensos a ter outro gene, o ACTN3, do que seus colegas de corrida, com testes mostrando que 75% dos esportistas jamaicanos o possuem.
Logo em seguida, estão os competidores americanos, com apenas 70%. Este gene “ajuda os músculos a gerar contrações fortes e repetitivas”, diz Brooks.
Para Brooks, no entanto, nem todas as alterações genéticas levarão a vantagens, e mesmo os genes raros que possivelmente beneficiam os velocistas jamaicanos causam casos acima da média de “diabetes, hipertensão e outros problemas cardiovasculares”.
Brooks conclui: “A verdade é que não temos informações suficientes para tirar conclusões sólidas sobre o domínio jamaicano na corrida”. A Harvard University Press (HUP) oferece uma visão diferente.
Orlando Patterson, em um artigo para a HUP, afirmou em 2023: “Agora é universalmente aceito que o fator mais importante que explica as proezas atléticas do país é a instituição do Campeonato Atlético Interescolar anual, popularmente chamado de Champs”.
O Champs é um encontro de atletismo de cinco dias para crianças de 10 a 18 anos, com a participação de até 30.000 torcedores, afirma Patterson. É o maior evento esportivo da Jamaica todos os anos e mostra o domínio cultural da corrida de velocidade no país.
Assim como a Índia é apaixonada pelo críquete, o Japão pelo beisebol e os EUA pelo futebol americano, a popularidade e o impacto cultural ajudam a produzir talentos.
Quando questionado sobre por que a Jamaica continua a produzir velocistas tão bons, Usain Bolt, o maior de todos os corredores, respondeu: “É que temos um bom sistema. Os campeonatos masculinos e femininos continuam produzindo cada vez mais atletas.”
Já Patterson acredita que “o desempenho da ilha contradiz quase todas as explicações sobre por que as nações têm sucesso nas Olimpíadas”.
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