A triste história de João do Pulo, estrela brasileira do atletismo
O maior atleta brasileiro dos anos 1970, medalhista olímpico e recordista mundial, fez história no esporte e foi um verdadeiro herói. Mas, infelizmente, sua carreira acabou de forma trágica.
João Carlos de Oliveira nasceu em 28 de maio de 1954, em Pindamonhangaba, no interior paulista, onde cresceu em uma família pobre e, logo cedo, ficou órfão de mãe.
Ainda adolescente, entrou para o exército, onde serviu por 14 anos, chegando à Patente de Sargento. Aos 17, começou no atletismo, incentivado por seu professor de educação física, de acordo com a Fundação Cultural Palmares, do Ministério da Cultura do Brasil.
Foto: Unsplash - Adi Goldstein
Em 1975, o jovem atleta conquistou a medalha de ouro no salto à distância, nos Jogos Pan-Americanos da Cidade do México, e, em 15 de outubro, na mesma competição, levou o ouro no salto triplo, quebrando o recorde mundial, com a marca de 17,89 metros.
A incrível marca do atleta brasileiro demorou 10 anos para ser batida. Foi o estadunidense Willie Banks (foto) quem estabeleceu o novo recorde mundial, com 17,97 m. Na América do Sul, a marca de João manteve-se até 2007, quando Jadel Gregório saltou 17,90m, no GP Brasil Caixa, em Belém.
"Vai parecer pretensão minha, mas eu acho que o João era um Bolt. O João venceu sem treinar, sem se dedicar. Ele era especial. Era um absurdo", disse Pedro Henrique de Toledo, seu ex-treinador, ao Globo.
Em 1979, João do Pulo repetiu o feito, levando o ouro em duas provas: no salto à distância e no triplo.
Apesar de não haver conquistado o ouro olímpico, o brasileiro ganhou dois bronzes consecutivos no salto triplo, nos Jogos Olímpicos de Montreal, em 1976, e em Moscou, 1980.
Na foto, o campeão olímpico James Butts, em 1976.
A disputa pelo ouro olímpico de Moscou foi controversa. João do Pulo teve dois saltos anulados por árbitros soviéticos, favorecendo os atletas russos, Viktor Saneyev, que ficou com a prata (foto), e Jaak Uudmae (ouro). Analistas internacionais consideraram que os saltos de João foram válidos e lhe dariam o ouro.
João do Pulo foi tricampeão mundial do salto triplo, em 1977, em Düsseldorf, na Alemanha; 1979, em Montreal, no Canadá; e 1981, em Roma (na foto, à esquerda), na Itália.
No auge da carreira, o atleta teve sua trajetória tragicamente interrompida. Em 22 de dezembro de 1981, sofreu um grave acidente de carro, na via Anhanguera, no estado de São Paulo.
Ele chegou ao hospital, em Campinas, em coma, com hemorragia, contusão pulmonar, traumatismo craniano, esmagamento da perna direita e o maxilar fraturado, informou o Globo.
Depois de quase um ano na UTI, 16 cirurgias, 4 paradas cardiorrespiratórias e uma perna amputada, João do Pulo saiu do hospital. Entrou, então, para a vida política e foi eleito duas vezes como deputado estadual de São Paulo.
João do Pulo faleceu aos 45 anos, com cirrose hepática e infecção generalizada. Ele deixou dois filhos e passou os últimos anos de vida em depressão. Sua única fonte de renda vinha como soldo de segundo tenente reformado do Exército, relatou a Fundação Cultural Palmares.
Foto: Unsplash - Mayron Oliveira
A família vendeu suas duas medalhas olímpicas e aquela do recorde mundial, obtida no Pan da Cidade do México, a Roberto Gesta de Melo, ex-presidente da Confederação Brasileira de Atletismo.
Em 2019, João do Pulo entrou para o Hall da Fama do Comitê Olímpico do Brasil (COB), eternizado como um dos maiores atletas nacionais.