Seca e guerra aprofundam fome na Somália
A Organização das Nações Unidas fez um alerta ao mundo sobre a fome na Somália e iminente onda de mortes de crianças no Chifre da África (noroeste do continente). Apela-se urgentemente por fundos para salvá-las da desnutrição.
Quatro temporadas consecutivas sem chuva provocaram uma seca severa no país e levou o governo a declarar estado de emergência.
As agências da ONU também garantem que cerca de 7,1 milhões de somalis (quase metade da população) enfrentam níveis agudos de insegurança alimentar. Isto significa que mal conseguirão obter as calorias mínimas que precisam.
O Chifre da África lida agora com um evento climático não visto em pelo menos 40 anos, segundo especialistas.
Se a seca persistir, até 20 milhões de pessoas sofrerão de fome aguda até o final do ano, segundo o Programa Mundial de Alimentos.
A UNICEF relata que mais de 1,7 milhão de crianças na Etiópia, Quênia e Somália precisam, urgentemente, de tratamento para desnutrição aguda grave, a forma mais mortal da doença. Só na Somália são cerca de 386 mil.
Rania Dagash-Kamara, vice-diretora regional do UNICEF para a África Oriental e Austral, disse em comunicado que os riscos são particularmente altos para as crianças da Somália. Elas estão na linha de frente da crise climática.
Imagem: Gyan Shahane/Unsplash
“2011 foi um ano de fome, mas agora superamos os números que tínhamos na época, que era de 340 mil crianças necessitadas (na Somália)”, disse Dagash-Kamara.
Mais de um quarto de milhão de pessoas morreram na fome somali de 2011. Metade delas eram crianças com menos de cinco anos.
Dagash-Kamara diz que as causas estão relacionadas a uma combinação de desnutrição e doenças mortais, como sarampo e cólera.
A Guerra na Ucrânia também tem agravado a situação. "Somente a Somália importava 92% de seu trigo da Rússia e da Ucrânia, mas as linhas de fornecimento agora estão bloqueadas", são as palavras de Dagash-Kamara.
A guerra está exacerbando os preços globais de alimentos e combustíveis. Isto significa que muitos na Etiópia, Quênia e Somália não podem mais comprar os alimentos básicos que precisam para sobreviver”, disse ela.
“Devemos agir imediatamente para evitar uma catástrofe humanitária”, disse El-Khidir Daloum, diretor nacional do Programa Mundial de Alimentos na Somália.
“As vidas dos mais vulneráveis já estão em risco de desnutrição e fome. Não podemos esperar por uma declaração de fome para agir. É uma corrida contra o tempo”, completou.
Em particular risco de fome está o sul da Somália, onde a presença de combatentes do al-Shabab, um grupo armado islâmico, torna o acesso humanitário um desafio.
O Plano de Resposta Humanitária da ONU para 2022 é apenas 18% financiado, até o momento. A Somália está competindo com outros pontos de emergência globais por financiamento, à medida que a insegurança alimentar cresce.
Um dos primeiros atos do novo presidente da Somália, Hassan Sheikh Mohamud, foi designar uma pessoa para liderar esta crise. Trata-se de Abdirahman Abdishakur Warsame, que concorreu contra ele para o cargo.
Warsame disse ao The Guardian que espera que um plano seja implementado, em breve, para controlar os altos preços de alimentos e combustíveis.
“Pedimos à comunidade internacional que atue rápido, enquanto ainda temos alguma esperança de evitar a fome generalizada na Somália”, disse o representante da FAO na Somália, Etienne Peterschmitt.
Imagem: Mathias Reding/Unsplash
As agências pedem o apoio do G-7, que se reunirá na Alemanha em breve. Acredita-se que os países avançados do bloco têm o poder de evitar uma catástrofe que não precisa e não deve acontecer.
Um relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde em 2021 alertou que as mudanças climáticas são a “maior ameaça à saúde que a humanidade enfrenta”.
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