Por que ninguém mais fala de clonagem, após euforia com a ovelha Dolly?
A ovelha mais famosa do mundo nasceu na Escócia, em julho de 1996, e foi o primeiro clone de um mamífero, revolucionando a pesquisa na área.
Mas, apesar do sucesso extraordinário, desde então não ouvimos mais falar de outros clones, nem mesmo as tentativas recebem atenção. Qual o motivo?
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Mais do que a clonagem em si, Dolly mostrou à comunidade científica que era possível gerar um clone a partir da técnica conhecida como transferência nuclear.
Lygia da Veiga Pereira, professora do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências (IB) da Univesidade de São Paulo (USP), explicou que a principal contribuição do experimento foi mostrar que uma célula adulta, com uma função já definida, ainda pode ser reprogramada para se transformar em outro tipo de célula.
Isso significa que os cientistas puderam remover o núcleo de um óvulo e substituí-lo pelo núcleo de uma célula da ovelha que seria clonada.
O problema é que clonar animais é um procedimento incrivelmente difícil, com uma taxa de sucesso muito baixa. Dolly foi a única ovelha a nascer e sobreviver, entre 277 embriões clonados, relatou o jornal O Globo.
Além dos altos custos e da baixíssima taxa de êxito, sabe-se que os animais clonados tendem a desenvolver problemas de saúde e têm uma expectativa de vida menor.
Dolly morreu em 2003, aos 6 anos, devido a uma doença pulmonar. Muitos especialistas apontam que sua morte precoce está relacionada com o fato de ela ser um clone, embora seus criadores afirmem que foi uma doença adquirida.
Foto: Toni Barros/Wikimedia
Com o tempo, a pesquisa sobre clonagem passou a focar na terapia celular, em vez de no desenvolvimento de uma espécie igual a outra.
Em 2007, buscando uma forma mais simples de realizar o processo sem transferência nuclear, um grupo de pesquisadores descobriu que era possível reprogramar uma célula, em vez de trocar seu núcleo. Eles criaram as células-tronco pluripotentes induzidas (iPS), segundo relatou o Jornal da USP.
De fato, o líder da pesquisa, o japoneses Shinya Yamanaka (foto) ganhou um prêmio Nobel por isso.
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Hoje, cientistas da área de medicina regenerativa estudam doenças humanas utilizando células iPS para modelar essas condições. Por meio de pesquisas biológicas, investigam o envelhecimento precoce, o câncer e as doenças cardíacas, segundo O Globo.
Vale lembrar que o coração geneticamente modificado utilizado no primeiro transplante de coração de p o r c o para humano, realizado em janeiro de 2022, foi desenvolvido com a mesma tecnologia do experimento de Dolly, explicou Alan Archibald, pesquisador que participou do experimento de Dolly, segundo publicou o Globo.
Além da capacidade de clonagem de células para estudar doenças, em alguns países, como os Estados Unidos, a clonagem permite que as indústrias agropecuárias aumentem a produção de alimentos.
Já na Europa essa prática não é permitida, embora também haja muita pesquisa na área.
No Brasil, a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado aprovou, em 2022, o projeto que regulamenta as atividades de pesquisa, produção, importação e comercialização de clones de mamíferos, peixes, anfíbios, répteis e aves, informou a Embrapa e a Agência Câmera de Notícias.
Para preservar espécies em perigo de extinção, algumas equipes utilizam a técnica de clonagem, aumentando as populações ameaçadas.
Em resumo, depois do grande impacto de Dolly, hoje, a clonagem tornou-se importante por suas aplicações em medicina regenerativa, pesquisa biomédica, aumento da produção agrícola, conservação de espécies, e desenvolvimento de órgãos para transplantes.