Se Corrente do Golfo colapsar em 2050, mundo mudará para sempre, diz estudo
A Corrente do Golfo forma parte da principal corrente oceânica que regula o clima do planeta: o sistema conhecido como Circulação Meridional de Capotamento do Atlântico (AMOC, do inglês, Atlantic Meridional Overturning Circulation).
Se a AMOC e a Corrente do Golfo não existissem, o norte da Europa enfrentaria condições congelantes. A cidade de Barcelona, por exemplo, que normalmente tem invernos amenos, compartilha a mesma latitude de Chicago, cujo inverno é bem mais rigoroso. Isso significa que as correntes oceânicas são peças chave no transporte de calor para determinadas regiões.
Imagem: RedAndr/Wikimedia
Um estudo recente, publicado na prestigiada revista Nature, revela que a AMOC, estritamente ligada ao sistema da Corrente do Golfo, está no seu ponto mais fraco, em 1.600 anos. O declínio começou há cerca de 150 anos e perdeu cerca de 15 a 20% de sua força.
Segundo os cientistas, um colapso da AMOC poderia ocorrer, em algum momento entre 2025 e 2095. A probabilidade mais alta aponta para 2050.
Por outro lado, alguns especialistas questionaram o modelo utilizado para esta previsão, embora reconheçam que é preocupante. "Isso deve ser levado muito a sério, especialmente porque se trata de um risco que queremos descartar com 99,9% de certeza", disse o professor Stefan Rahmstorf, da Universidade de Potsdam, na Alemanha, ao The Guardian.
Segundo especialistas, um colapso do sistema AMOC poderia causar sérios danos em todo o mundo, especialmente na Europa e na América do Norte.
As temperaturas médias da Europa Ocidental poderiam ficar mais baixas, entre 10ºC e 15ºC. Isso significa que o clima de Barcelona ficaria mais parecido com o de Chicago, ou ainda mais frio!
De acordo com outro estudo, publicado na Nature Food, em 2020, o colapso da AMOC poderia reduzir drasticamente as chuvas no Reino Unido. Com isso, a porcentagem de terras aráveis, que atualmente é de 32%, sofreria uma queda para apenas 7%.
Além disso, a redistribuição de uma menor quantidade de águas quentes no leste da América do Norte poderia levar ao aumento do nível do mar, agravando as inundações e a erosão em lugares como Nova York e Boston.
"Um colapso do estado atual da AMOC teria impactos graves no sistema climático mundial e aumentaria o risco de ocorrerem outras mudanças em componentes importantes do sistema terrestre, como a camada de gelo da Antártica, os sistemas de monções tropicais e a floresta amazônica", explica a Nature Climate Change, em um artigo publicado em 2021.
De acordo com a ONG Arctic Ice Project, a Índia, os países da América do Sul e da África Ocidental seriam particularmente atingidos, com falência de colheitas, escassez de alimentos e aumento de preços.
A última vez que a AMOC entrou em colapso foi na era glacial, há cerca de 12 mil anos. Um novo e repentino episódio do tipo afetaria enormemente a vida marinha e seus ecossistemas.
Os pesquisadores destacam a necessidade de levantar uma bandeira vermelha, pois afirmam que o declínio dessas importantes correntes oceânicas pode ser prevenido se as mudanças climáticas forem restringidas.
Com o derretimento das calotas polares árticas, grandes volumes de água doce são incorporados ao oceano. Isso prejudica o fluxo da Corrente do Golfo, que é parcialmente impulsionado pela diferença de densidade das águas, afetada tanto pela temperatura como pela salinidade.
Ao longo dos 4,5 bilhões (em escala americana) de anos de história da Terra, já experimentamos situações semelhantes. Os geólogos propõem a hipótese de que, em algum ponto do passado, quando as calotas polares derreteram completamente, quase não havia correntes ou circulação nos mares. Os oceanos eram parecidos a pântanos tóxicos, como ocorreu no oceano Canfield, durante a era Proterozóia.
De acordo com a ONU, os oceanos geram 50% do oxigênio de que precisamos, absorvem 25% de todas as emissões de dióxido de carbono e capturam 90% do excesso de calor gerado por essas emissões, desempenhando um papel crucial no clima da Terra.