E se milhares de painéis solares fossem colocados no Saara?
A crise climática e o aumento histórico dos preços da eletricidade revelaram a importância das energias alternativas e renováveis, como os painéis solares.
Na verdade, cada vez mais pessoas, empresas, administrações e governos apostam pelos painéis solares, já que seu preço vem diminuindo ano a ano.
A pergunta que muitos especialistas fazem é: poderíamos implementar um espaço gigantesco, repleto de painéis solares, que pudesse abastecer todo o planeta?
Um artigo de Will Lockett, publicado no Medium, em março de 2021, estimou que o número de painéis solares necessários para abastecer o mundo inteiro é 51 bilhões (em escala americana).
A dimensão estimada desta instalação exigiria cerca de 186 mil quilômetros quadrados, o equivalente a 3,27% da área dos Estados Unidos, o mesmo que a área ocupada por Portugal e Hungria, juntos.
Parece lógico pensar no deserto, considerando que procuramos espaços imensos, onde a incidência do sol seja poderosa e contínua.
Foto de : Unsplash - Giorgio Parravicini
O deserto do Saara é o maior do mundo, com 9,2 milhões de quilômetros quadrados, podendo acolher facilmente esta instalação, que ocuparia apenas 3,25% do seu território, como aponta Will Lockett, em seu artigo.
Com uma instalação adequada, o projeto não causaria transtornos para humanos ou animais, nem exigiria desmatamento, certo? Infelizmente, não é tão fácil quanto parece.
Na verdade, além de inviável do ponto de vista econômico, implicaria levar a humanidade à beira da extinção.
Para começar, montar, manter e gerir um parque solar no deserto seria extremamente complicado. As condições são precárias, o ambiente é severo e o movimento constante de areia prejudicaria significativamente o funcionamento dos painéis.
Obviamente, a manutenção exigiria um grande número de funcionários, para monitorar as instalações 24 horas por dia, 7 dias por semana, em um ambiente extremamente exigente.
Além disso, as condições desérticas, como o calor, a areia e o vento, implicariam na instalação de painéis mais resistentes do que o habitual, aumento ainda mais os custos.
Segundo o artigo do Medium, um painel solar de 350W custa cerca de 400 euros, para uma casa. Mas, com a adaptação, o transporte, a montagem e a instalação no deserto, estima-se que custaria cerca de mil euros, por unidade.
O mesmo artigo estima que o preço da instalação completa seria de 514 bilhões de euros (em escala americana), o mesmo que 23 vezes o PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos, em 2021.
Além do alto custo da instalação, seria preciso armazenar essa energia em baterias, o que implicaria adicionar 4,2 kWh de armazenamento de bateria em cada painel, somando quase mil euros a mais, por unidade, segundo a Forbes.
Transportar essa energia do Saara para o mundo requereria linhas de alta potência, com 10% de perda de energia, ao longo do caminho.
Isso sem falar na questão ambiental. Um projeto como este implicaria em um desastre ecológico que poderia levar a humanidade à extinção.
O problema dos painéis solares, segundo a Science, é que eles captariam apenas 15% da energia enviada pelo sol. Os restantes 85% seriam devolvidos à atmosfera sob a forma de calor, piorando o aquecimento global.
O vapor de água gerado resultaria num poderoso gás de efeito estufa, mais perigoso que o dióxido de carbono, que levaria ao aumento da temperatura média do planeta, derretendo o gelo dos polos.
E o desastre não pararia por aí. O calor gerado pelos painéis levaria à alteração das correntes oceânicas e à destruição de grande parte da biodiversidade do mundo, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial.
Tudo está interligado no planeta, inclusive este espaço tão vasto como o Saara. Modificar seu ambiente geraria um efeito borboleta que arrasaria o mundo inteiro.
Foto de : Unsplash - Patrick Hendry