A guerra na Ucrânia vista do lado russo: as razões de Putin

Argumentos para defender a intervenção russa na Ucrânia
Ucrânia e Rússia são a mesma coisa
O altamente controverso Batalhão Azov
Nostalgia da grandeza soviética
A catástrofe do fim da URSS
A atitude provocativa da OTAN
A crise dos mísseis de 1962 como um paralelo
Se Kennedy se sentiu ameaçado, por que não Putin?
Dugin e o Império Eurasiano
Uma guerra entre o bem e o mal
Não há crimes de guerra, mas a crueldade comum a todas elas
Teorias de conspiração
Segunda suposta teoria
O papel dos adversários russos
A
Armas biológicas na Ucrânia?
Os russos apoiam a guerra?
Putin tem alta popularidade
Ele não é um ditador
Opinião divergente
Entenda o adversário
Argumentos para defender a intervenção russa na Ucrânia

Toda guerra levanta dois pontos de vista. A do Ocidente, empenhada em defender a Ucrânia, é óbvia: uma nação soberana e democrática foi atacada por um regime autocrático. Mas convém saber quais são os argumentos de Putin (e, certamente, da parte da população russa que o apoia).

Ucrânia e Rússia são a mesma coisa

Há uma realidade inquestionável: os laços culturais e sociais que unem a Ucrânia e a Rússia são muito fortes. Além disso, ambas as nações tinham a mesma identidade como partes da União Soviética. Mas essa irmandade foi se desfazendo e a Ucrânia decidiu se aproximar da Europa. O que, para as forças mais conservadoras da Rússia, foi uma traição. Putin e muitos de seu povo, de fato, pensam que a Rússia e a Ucrânia formam um todo indivisível.

Imagem: Nico Smit / Unsplash

"Desnazificação"

No discurso com o qual, horas antes da invasão, Putin justificou a guerra, o líder russo disse: "Lutaremos pela desmilitarização e desnazificação da Ucrânia". Naquela intervenção televisiva, Putin citou repetidas vezes a Segunda Guerra Mundial como referência para a atual intervenção militar. A invasão da Ucrânia seria, assim, uma luta patriótica que daria continuidade à luta heróica contra Hitler.

O altamente controverso Batalhão Azov

Um dos argumentos utilizados por aqueles que acusam o governo ucraniano de conluio com setores nazistas perigosos é a existência do Batalhão Azov. Este tem suas origens em um grupo paramilitar de Mariupol, mas está integrado à reserva do exército ucraniano. O símbolo do seu escudo parece muito com uma suástica. Pertence à extrema direita, na política.

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Nostalgia da grandeza soviética

Outro elemento a ser levado em conta para entender as ações da Rússia não só na Ucrânia, mas também em outras regiões onde esteve envolvida militarmente (Chechênia, por exemplo), é a nostalgia do Império Soviético.

A catástrofe do fim da URSS

A grandeza perdida da URSS é um trauma nacional. Como James Hershberg lembrou em um artigo para a Foreign Policy que Putin chamou o colapso do bloco de "genuinamente trágico'" e o definiu como "a maior catástrofe geopolítica do século XX".

A atitude provocativa da OTAN

Outro argumento não só de Putin, mas também daqueles que questionam a forma como o Ocidente lida com a Rússia, é a atitude "imprudente" da OTAN, que passou anos tentando atrair a Ucrânia para sua órbita sem levar em conta os alertas da Rússia, de que não quer bases de um inimigo potencial em suas fronteiras.

A crise dos mísseis de 1962 como um paralelo

Outra justificativa muito usada é a crise dos mísseis que, em 1962, levou os Estados Unidos e a União Soviética à beira da guerra. Foi quando os soviéticos colocaram mísseis na ilha de Cuba, a poucos quilômetros da Flórida. Logo, foram retirados.

Se Kennedy se sentiu ameaçado, por que não Putin?

O paralelo com a crise dos mísseis levanta a questão: por que, se Kennedy viu a segurança dos Estados Unidos ameaçada e conseguiu que Khrushchev removesse os mísseis de Cuba, Putin não pode exigir que a OTAN se afaste da Ucrânia? E se a Ucrânia não for clara sobre sua retirada da OTAN, o ataque seria justificado (embora a Ucrânia, uma vez iniciada a invasão, tenha anunciado sua decisão de não aderir à Aliança Atlântica).

Dugin e o Império Eurasiano

Há também quem acredite que, por trás das ações de Putin, há um desejo expansionista baseado nas ideias de Alexander Duguin. Este é um pensador ultranacionalista defensor de um império eurasiano que ultrapasse as fronteiras russas e enfrente os Estados Unidos. Duguin propõe a criação de um bloco de nações com valores cristãos, estatistas e anti-LGBTQIA+ que irá “de Lisboa a Vladivostok”.

Imagem: Da Fars Media Corporation, CC BY 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=87159921

Uma guerra entre o bem e o mal

O patriarca Kirill, o mais alto líder religioso da Igreja Ortodoxa, elaborou argumentos morais que justificam a guerra na Ucrânia. Ele fala de uma batalha "contra o mal" e contra "os valores ocidentais" como o orgulho g a y. De acordo com Delia Gallagher, em um artigo para a CNN, Kirill acredita que a invasão da Ucrânia é “uma rejeição fundamental dos chamados valores oferecidos hoje por aqueles que reivindicam o poder mundial”.

Não há crimes de guerra, mas a crueldade comum a todas elas

Outro argumento "pró-russo" comum é relativizar os supostos crimes de guerra que as tropas de Putin podem ter cometido (como, por exemplo, a morte de civis em Bucha). De acordo com essa opinião, trata-se da violência de qualquer guerra e ocorre em ambos os lados. E, sim, é verdade que os ucranianos também foram acusados, por exemplo (e havia vídeos sobre isso publicados por meios de comunicação como a BBC) de executar soldados russos capturados.

Teorias de conspiração

Um artigo publicado no The New York Times falava de "cinco teorias da conspiração" promovidas por Putin para justificar sua guerra. Seu autor, Ilya Yablokov, listou-os um a um: o primeiro se resume na frase "O Ocidente quer dividir o território russo".

Imagem: Egor Filin/Unsplash

Segunda suposta teoria

A segunda teoria (da conspiração, sempre segundo o colunista Ilya Yablokov) seria que "a OTAN transformou a Ucrânia num campo militar”.

O papel dos adversários russos

O terceiro argumento de Putin citado pelo The New York Times seria que "a oposição (russa) quer destruir a Rússia por dentro e é apoiada pelo Ocidente". A mão pesada com adversários como Navalni (atualmente preso) seria totalmente justificada.

A "ameaça" LGTBIQ

“O movimento global LGBTQIA+ é uma conspiração contra a Rússia” é outra frase que resume o que seria a quarta teoria da conspiração que, segundo Ilya Yaboklov, sustenta a ideia de que Putin está apenas defendendo um povo e seus valores profundos.

Imagem: Teddy Österblom / Unsplash

Armas biológicas na Ucrânia?

E como quinta teoria entramos em uma acusação muito séria: que a Ucrânia está preparando armas biológicas para atacar a Rússia. Segundo Ilya Yaboklov, o próprio Lavrov (poderoso ministro das Relações Exteriores -na imagem-) divulgou essa informação para esquentar o conflito.

Os russos apoiam a guerra?

Todas essas teorias e argumentos expostos acima são insistentemente difundidos pela grande mídia hegemônica russa. Isso faz com que a população russa apoie esmagadoramente a guerra? É muito difícil saber: os mais exaltados exibem o Z de apoio a Putin, mas também houve manifestações contra a invasão (severamente reprimidas).

Imagem: Artem Beliaikin/Unsplash

Putin tem alta popularidade

Sempre se repetiu que, de acordo com pesquisas realizadas na Rússia, Putin nunca caiu abaixo de 60% de apoio entre a população. Com a guerra na Ucrânia em andamento, segundo a Forbes, uma pesquisa no final de março divulgou um número retumbante: 83% dos russos aprovaram a gestão do presidente.

Ele não é um ditador

Com esse nível de apoio, seria difícil chamar Putin de ditador. Ele ganha as eleições, dizem seus apoiadores. Embora nestas eleições a oposição mal tenha a oportunidade de se apresentar nas mesmas condições que o partido no poder.

Opinião divergente

Mas há quem discorde. O oligarca Oleg Tinkov (foto) lançou uma mensagem no Instagram contra Putin. Segundo meios de comunicação como a BBC, ele garantiu que 90% dos russos são contra a guerra na Ucrânia e que "os   i m b e c i s  são 10% em qualquer país”.

Entenda o adversário

Entender quem está do outro lado é útil, mesmo que suas razões não nos convençam. E, talvez, sirva (de alguma forma) para atingir o único objetivo legítimo: a paz, o fim da violência.

Imagem: Christian Wiediger/Unsplash

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